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O Surgimento do Automóvel
Assim como a humanidade deixou o aspecto
simiesco, o carro foi perdendo sua semelhança com as carruagens. No século XIX,
surgem as primeiras carruagens sem cavalos, movidas a vapor e tão barulhentas e
lentas que desanimariam qualquer um! Mas, os inventores são "pessoas" que
pertencem a uma categoria diferente dos outros simples mortais, são persistentes
a ponto de serem taxados de "lunáticos", "doidos" e outros adjetivos menos
publicáveis. Graças a essa persistência a partir de 1830, foram aperfeiçoados
veículos elétricos alimentados por baterias, mais "rápidos e "silenciosos", mas
que tinham o inconveniente de não poder percorrer longas distâncias porque
logicamente dependiam de carga das baterias.
Henry Ford em seu carro de corrida, em 1901
Em 1860 Étienne Lenoir, constrói o primeiro
motor de combustão interna, ou seja, que queima combustível dentro de um
cilindro, aliás o mesmo princípio utilizado nos motores até hoje! Entre 1860 e
1870, diversas experiências isoladas em toda a Europa, deram enorme contribuição
para o aparecimento de algo muito semelhante ao automóvel que conhecemos
atualmente. Dentre estas experiências citamos a construção de um pequeno carro
movido por um motor a 4 tempos, construído por Siegfried Markus, em Viena, em
1874.
Os motores a vapor, que queimavam o combustível fora dos cilindros, abriram
caminho para os motores de combustão interna, que queimavam no interior dos
cilindros uma mistura de ar e gás de iluminação. O ciclo de 4 tempos foi
utilizado com êxito pela primeira vez em 1876, num motor construído pelo
engenheiro alemão Conde Nikolaus Otto. Neste motor o combustível era comprimido
antes de ser inflamado, o que resultava num considerável aumento de rendimento
do motor. Ao surgir a gasolina como combustível, substituindo o gás, o motor
passou a ter uma alimentação de carburante independente.
Em 1936, um inventor parisiense já imaginara uma
capota conversível rígida
Como vimos, já haviam diversas experiências bem
sucedidas para o aprimoramento do automóvel, faltava apenas reunir tudo isso num
único veículo. Gottlieb Daimler e Carl Benz, cada um ao seu modo, foram os
primeiros a utilizar o novo combustível. Daimler, nasceu na Alemanha, em 1834,
trabalhara com "Otto", de quem se separou, em 1872, para abrir sua própria
oficina, perto de Stuttgart, onde passou a contar com a colaboração de Wilhelm
Maybach, outro técnico também formado nas oficinas do Conde Otto.
Neste mesmo ano surgiu o primeiro motor Daimler-Maybach, comparando com o
motor do Conde Otto, que funcionava a 200 R.P.M. (rotações por minuto), o
Daimler-Maybach era de alta velocidade e alcançava 900 R.P.M. Este motor
posteriormente foi utilizado numa carruagem em que foram retirados os varais.
Na década de 50 a Ford utiliza este mesmo tipo de
capota
Carl Benz, compatriota de Daimler e dez anos
mais novo que este, sonhava com um veículo autopropulsionado. Em 1855, criou um
motor de 4 tempos e instalou na parte de trás de um triciclo. Era mais pesado e
mais lento que o de Daimler, mas duas características desse veículo persistem
ainda hoje: a válvula curta de haste e prato e o sistema de refrigeração a água
( a água não circulava, ficava armazenada num compartimento) que tinha que ser
constantemente abastecido para manter se cheio e compensar as perdas por
ebulição.
Benz, era um homem de negócios e em 1887, iniciou a venda de um veículo de
três rodas, colocando pioneiramente a disposição da sociedade, um automóvel,
veículo que iria mais tarde modificar todos os conceitos de locomoção do ser
humano. Nesse tempo Daimler, inventou o motor que seria utilizado mesmo depois
do inicio do século XX.
Edouard Sarazin
Edouard Sarazin era especialista em "Patentes" e ao tomar conhecimento do
motor Daimler, conseguiu registrar a patente do mesmo na França, e levou ao
conhecimento dos franceses "Émile Levassor e René Panhard", nas oficinas de
Panhard e Levassor, o automóvel ganhou inovações que deram realmente a forma dos
automóveis que hoje conhecemos. As inovações tecnológicas de Levassor & Panhard
: Motor montado na frente do automóvel com proteção contra lama e poeira.
Substituição da transmissão por correias de embreagem e caixa de mudanças.
Estabeleceu o sistema "motor dianteiro" - tração nas rodas traseiras. Os
primeiros a conceber um automóvel como peça "única" e não adaptação de um
triciclo ou carruagem. Utilização do radiador tubular (um conjunto de tubos com
palhetas de refrigeração) na frente do automóvel.
Chevrolet Corette, o primeiro veículo de fibra em
série, produzido a partir de 1953
Quando Levassor morreu em 1897, o automóvel já
adquiria sua própria identidade, pois os motores passaram da tradicional
montagem em "V", para a disposição em linha. Agora qualquer construtor poderia
aumentar a potência do motor, bastando apenas acrescentar mais cilindros ao
mesmo.
O Primeiro Automóvel Americano
O primeiro carro como vimos nasceu na Alemanha, foi aperfeiçoado na França,
mas já era fabricado nos Estados Unidos. O primeiro carro americano, o Duryea
surgiu em 1893! E é nos Estados Unidos que teríamos o segundo grande passo para
a popularização e evolução definitiva do automóvel, graças ao pioneirismo de
Henry Ford.
Henry Ford - Nasceu nos Estados Unidos em 1863, desde cedo
interessou-se por mecânica, em 1896 fabricou seu primeiro automóvel, cinco anos
depois bateu o recorde mundial de velocidade com seu modelo 999. Em 1903, funda
sua empresa, a Ford Motors Company, já defendendo a idéia de que produzindo
grande quantidade de automóveis de baixo preço e pouco luxo, obteria maior
lucro. Assim, lançou o modelo "T", rústico e barato, que logo conseguiu um
grande número de vendas, alcançando a marca de 16 milhões de unidades vendidas
nos 25 anos em que foi produzido, transformando Henry Ford no proprietário de um
dos maiores impérios industriais e econômicos de sua época. O seu conceito
inovador, de produção de veículos em série, logo se estendeu para outros
segmentos industriais, fazendo surgir as linhas de montagem, e toda uma
revolução nos métodos e conceitos de fabricação da época. Segundo dados
biográficos, Ford era uma pessoa extremamente dominadora e contraditória, veja
alguns exemplos: Pagava aos seus funcionários os maiores salários da época, ao
mesmo tempo lutava contra a sindicalização dos mesmos. Era um pacifista, mas
montou a maior fábrica de armamentos do mundo durante a guerra. Financiou tanto
a construção de um moderno Hospital, como a publicação de um jornal
especializado em artigos anti-semitas. Com todas as idéias progressistas, levou
sua empresa a uma grande crise financeira, pois relutava em substituir o "velho
modelo T" já bastante ultrapassado (só em 1927, reaparelhou a fábrica e lançou o
modelo "A"). Faleceu em 1947, aos 83 anos de idade.
O modelo "T" alcançou 16 milhões de unidades
vendidas
O Automóvel no Brasil
Em 1893, na cidade de São Paulo, que na época
contava com 200.000 habitantes, em plena Rua Direita, o povo pára para ver,
entre assustado e encantado, um carro aberto com rodas de borracha. Era um
automóvel a vapor com caldeira, fornalha e chaminé, levando dois passageiros. O
dono do desengonçado veículo era Henrique Santos Dumont, irmão do "Pai da
Aviação" com um Daimler inglês(patente alemã). Também no Rio de Janeiro em 1897
o automóvel já causava furor. José do Patrocínio famoso homem das letras
brasileiras, vivia a se gabar de seu maravilhoso automóvel movido a vapor
passeando pelas ruas esburacadas do Rio, causando imensa inveja no compatriota
Olavo Bilac. Certa feita, José do Patrocínio resolveu ensinar o amigo a dirigir
seu carro, e Olavo Bilac conseguiu arremessá-lo de encontro a uma árvore na
Estrada Velha da Tijuca. José do Patrocínio ficou muito chateado, mas Bilac, com
uma gargalhada comemorava o fato de ter sido protagonista do primeiro acidente
automobilístico no país!
Chevrolet Corvar, modelo Monza, década de 60. Foi
o primeiro carro de série a utilizar turbo
Em 1900, Fernando Guerra Duval, desfilava pelas
ruas de Petrópolis com o primeiro carro de motor a explosão do país: um
Decauville de 6 cavalos, movido a " benzina". Assim nascia a história do
automóvel no Brasil, com muito humor para variar. Mas o certo é que em São
Paulo, em 1900, o então prefeito Antônio Prado instituiu leis regulamentando o
uso do automóvel na cidade, já instituindo uma taxa para esse veículo, assim
como era feito com os tílburis e outros meios de transportes. Henrique Santos
Dumont, o pioneiro solicitou ao prefeito, isenção do pagamento da recém
instituída taxa alegando o mau estado das ruas. Houve muito bate boca entre os
dois e a Prefeitura cassa a sua licença, e também a cobiçada placa "P-1", que
acabou parando no carro de Francisco Matarazzo. Em 1903, tínhamos em São Paulo 6
automóveis circulando pela cidade, e a prefeitura tornou obrigatória a inspeção
dos veículos, para fornecer uma placa de identificação, que seria
obrigatoriamente afixada na parte traseira do "carro". Veja que nosso prefeito
pensava longe, até a velocidade para o veículo já dispunha de regulamentação:
..."Nos lugares estreitos ou onde haja acumulação de pessoas, a velocidade será
de um homem a passo. Em nenhum caso a velocidade poderá ultrapassar a 30 Km por
hora" Em 1904, criou-se o exame para motoristas, sendo a primeira carta de
habilitação em São Paulo entregue a Menotti Falchi, dono da Fábrica de
Chocolates Falchi. Em 1904, São Paulo já tinha 83 veículos. No início, os
automóveis eram privilégio de uma pequena elite, e causava um inconveniente que
acabou gerando uma nova profissão: o "chauffer", palavra importada assim como os
primeiros motoristas particulares, era um emprego muito bem remunerado e
garantia um excelente tratamento aos seus ocupantes, na maioria estrangeiros.
A primeira corrida automobilística ocorrida no Brasil, foi em São Paulo, no
dia 26 de julho de 1908, no Parque Antártica uma multidão que pagou 2.000 réis
pela oportunidade, esperavam ansiosos pelo vencedor do "Circuito de Itapecirica".
Repórteres nacionais e estrangeiros cobriam o evento, que também era o primeiro
de toda América do Sul. O grande vencedor foi o paulista Sylvio Penteado, com
seu Fiat de 40 cavalos, com uma média de 50 Km por hora, ele cumpriu o trajeto
de 70 km em 1 hora 30 min. e 5 segundos. Neste mesmo ano o conde francês Lesdain,
realiza a pioneira travessia Rio-São Paulo (Se hoje você reclama da Dutra,
imagine...)700 Km. de estradas tortuosas, que ele venceu em 33 dias num carro
Brasier de 16 cavalos. Antonio Prado Júnior, no mesmo ano organiza uma caravana
de " bandeirantes sobre rodas de borracha", com destino a Santos(S.P) pelo
perigoso e abandonado Caminho do Mar, a aventura durou 36 horas. Em 1908 foi
criado o Automóvel Clube de São Paulo, para estimular o automobilismo na cidade,
na mesma época no Rio de Janeiro é criado o Automóvel Club do Brasil.
Chrysler Turbina 1963, foi lançado pela Chrysler
com propulsor por turbina a gás, só foram fabricados 50 unidades, mas não
vingou
Começava uma história de paixão do povo
brasileiro pelos automóveis, uma paixão que se iguala ao "time do coração", a
"religião", ao "amor". O carro para o brasileiro é muito mais que um meio de
transporte, é uma parte da vida de cada um. A paixão pelos automóveis logo
trouxe a vontade de se fabricar os automóveis aqui mesmo, e em 1907 uma empresa
que se dedicava a fabricação e reparos em carruagens de tração animal, Luiz
Grassi & Irmão, montou e colocou em funcionamento em São Paulo, um Fiat. Coisas
de pioneiros... Com US$ 25 mil ( equivalente a 111 Contos de Réis) desembarcava
no Brasil a Ford Motors, instalando-se primeiramente num armazém alugado na Rua
Florêncio de Abreu em São Paulo, com 12 funcionários.
O primeiro projeto era a montagem do famoso modelo T, aqui carinhosamente
apelidado de "Ford Bigode", e já no ano seguinte eram montados os primeiros
caminhões, obrigando a empresa a procurar um local maior, muda-se então para a
Praça da República, num local onde mais tarde funcionaria o Cine República. Em
1922, transfere-se para o Bom Retiro, ficando até 1953, quando instalou-se no
Ipiranga. Atualmente sua unidade principal, localiza-se no Bairro do Taboão em
São Bernardo do Campo (cidade considerada a Detroit brasileira). Se quiser saber
mais sobre a Ford, visite o site da Ford no Brasil ou, a matriz nos E.U.A. Em
1925, chega a General Motors, instalando-se primeiramente num armazém arrendado
na Avenida Presidente Wilson, no bairro do Ipiranga São Paulo. Veio com um
capital social de 2 Mil Contos de Réis, logo de inicio tinha capacidade para
montar 25 carros por dia, com grande sucesso as vendas ao término desse mesmo
ano, a empresa contabilizava 5.597 veículos vendidos, obrigando a fábrica a
aumentar a produção diária para 40 veículos. Em 1930 a G.M muda para um terreno
de 45.000 metros quadrados em São Caetano do Sul - São Paulo, onde permanece até
hoje. Para saber mais visite o site da G.M.
Any Car 1970, este veículo foi originalmente
chamado de "ForChevAmChryJVagen", pois foram utilizados 22 partes de veículos
O presidente Getúlio Vargas, á partir de um
documento da Subcomissão de Jipes, Tratores, Caminhões e Automóveis, estabelece
que os veículos só poderiam entrar no Brasil totalmente desmontados, e sem
componentes que já fossem fabricados por aqui. Este foi o primeiro grande
impulso para a "Nacionalização e formação de uma Indústria Automobilística no
Brasil". Aí chegamos ao Governo de Juscelino Kubitscheck, com a promessa de
realizar"50 anos em 5", delega ao Almirante Lucio Martins Meira (nomeado
Ministro da Viação e Obras Públicas) a missão de comandar o "Grupo Executivo da
Indústria Automobilística"(GEIA), que estabelece metas e regras para a
definitiva "instalação de uma indústria automobilística no Brasil.
Através do GEIA eram oferecidos estímulos fiscais e cambiais às empresas
interessadas, que deveriam se comprometer com a nacionalização dos veículos aqui
fabricados. Os caminhões deveriam ter 90% de seu peso total, em componentes
nacionais, e os automóveis 95%. Em pouco tempo estas metas foram cumpridas e até
superadas. Primeiro caminhão Ford dentro do Plano de Nacionalização. Com Collor
na presidência, caem as barreiras alfandegárias e o Brasil é literalmente tomado
pelos importados, já que nosso ex-presidente achava os nossos carros nacionais
verdadeiras "carroças", essa quebra de barreiras, fez com que a indústria
brasileira acordasse de um sono letárgico de anos de protecionismo e renova suas
linhas, oferecendo lançamentos quase simultâneos de seus produtos mundiais.
Cronologia
1894 - Vacheron lança o automóvel com volante
1895 - Panhard fabrica o primeiro automóvel fechado. Os irmãos
André e Edouard Michelin lançam os primeiros pneus para automóveis.
1898 - Daimler constrói o primeiro motor de 4 cilindros em
linha.
1899 - Daimler introduz a mudança de velocidade em "H" e o
acelerador de pé. Renault na França, é primeiro a utilizar o eixo de transmissão
ligado ao eixo traseiro por meio de cardans. Os automóveis de Dietrich-Bolée vem
com parabrisas como acessórios extras.
1901 - Daimler lança na Alemanha o Mercedes.
1902 - Spyker lança na Holanda um automóvel com tração nas 4
rodas e motor 6 cilindros em linha. Frederick Lanchester inventa o freio a
disco.
1903 - Mors, apresenta um automóvel com amortecedores. Ader na
França fabrica o primeiro "V8".
1905 - Surge nos Estados Unidos o primeiro sistema de
aquecimento que funcionam com o escapamento do motor.
1906 - A Rolls-Royce lança o Silver Ghost. Nos Estados Unidos
surgem os pára-choques.
1908 - A Ford lança o modelo "T". A Delco nos Estados Unidos,
fabricam a primeira bobina e o distribuidor.
1912 - A Peugeot fabrica o primeiro motor com árvore de comando
de válvulas, duplos no cabeçote.
1915 - Aparecem nos Estados Unidos os "limpadores de
pára-brisas.
1916 - Aparecem nos EUA as luzes de freio acionadas pelo pedal.
1917 - O modelo American Premier inova com um velocímetro.
1921 - Surge nos EUA a mudança de luzes automática.
1923 - A Dodge, fabrica a primeira carroceria fechada
totalmente em aço. A Fiat, na Itália, monta uma coluna de direção ajustável.
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